domingo, 27 de setembro de 2009

O Leão Negro

- Karifael esta morto! Tu roubastes tua espada.

- Karifale realmente esta morto, assim como sua esposa Corey, seus filhos Mira e Anton, e todos os moradores de Farsand. Você fez um bom trabalho quando incendiou tudo após seu ataque covarde contra mulheres, crianças, e idosos.

- Como tu sabes deste ataque? Não houveram sobreviventes.

- Levou meses para que eu pudesse andar novamente. E anos para aprender e pensar no que fazer. Dediquei-me a encontrar respostas. Estudei, orei, e por fim encontrei a resposta que procurava. Karifael estava morto, e assim deveria permanecer.

- Acabarei com o que comecei anos atrás.

- Não! Hoje, Karifael renasce, por apenas uma noite, para vingar-se daquele que assassinou sua mulher, seus filhos, seus amigos. Aquele que condenou Karifael a dar lugar à Faliel.

- Não pode ser! Eu mesmo te vi sendo alvejado com flechas suficientes para matar qualquer homem!

- Qualquer homem sim... Mas eu nunca fui um homem qualquer. Eu sou o Leão Negro! O maior assassino desta era. E estou aqui para matar você!

- Arrependa-se de teus pecados agora, e poderás encontrar teus queridos.

- Pagarei por meus pecados quando for o tempo de prestar contas a Pentar. Assim como você. A diferença é que você prestará contas esta noite.

- Morra!

Ambos os homens partiram em direção ao outro. O combate foi brutal.

Calor e Frio

Alexya ficou paralisada. Ela sempre achou que seu pai havia morrido há muitos anos. E que sua mãe havia morrido logo após de tristeza. Agora este estranho vinha do nada e lhe contava sobre seu pai vivo e doente, e sobre a história de seus meio-irmãos, e que seu avô tinha mentido sobre seu pai. Era algo difícil de assimilar.

- Você realmente acreditou que sua beleza, agilidade, e habilidade vinham de um pai humano não é? Imagino que você deve estar se perguntando o porquê seu avô não lhe contou a verdade.

Alexya beirava o desespero, estava prestes a desabar em lágrimas.

- Por quê?! Por que ele não me contou?

- Ele teve os motivos dele. Ele culpava, e ainda culpa, meu... nosso pai pela morte de sua filha, sua mãe. Não posso culpá-lo por isso. Se nosso pai não tivesse me feito este pedido, você provavelmente nunca ficaria sabendo disso. E morreria acreditando naquilo que seu avô lhe contou. Ele o fez com a melhor das intenções, e ele a ama o suficiente para agüentar até mesmo o peso de esconder a verdade de você.

- Como ele pôde?

- Não odeie seu avô Alexya. Eu não o faria.

- Como não? Você não sabe do que fala!

- Sei sim. Tenho sido desprezado por meu pai a longos cento e quatorze anos. Eu sou o filho que ele não queria ter tido. Olhar para mim é como olhar para um túmulo na visão de nosso pai. Você não sabia da verdade. Eu sou assombrado por ela desde meu nascimento.

Nuque caminhou em direção a jovem fragilizada.

- Perdoe-me pelo que disse. Eu não tinha o direito.

O elfo abraçou sua irmã.

- Eu... Obrigada.

- Agora que a encontrei, não deixarei você sozinha novamente.

- Eu, entendo. Eu fui egoísta em achar que somente eu tenho problemas.

- E o que vai fazer agora?

- Ainda não sei exatamente. Acho... que vou encontrar meu... nosso pai.

- Posso escoltá-la até ele.

Ambos ainda se mantinham abraçados.

O Despertar do Leão

Gritos. Fumaça. Juras de morte e vingança. Cheiro de enxofre, de sangue, de lágrimas. Medo. Ódio. Dor. Aço. Eles haviam entrado no grande templo da Lâmina Imortal. A contagem de corpos já havia ficado para trás na mente de Faust e Faliel. Apenas Zado continuava a anotar mentalmente a quantidade de vítimas que fizera. Eles estavam finalmente diante das portas do refúgio final do sumo-sacerdote, o grande Leopold Winterblade, líder do culto a Pentar, estrategista-mor de Vectoria.

Os três interrompem seu avanço ante a pesada porta de carvalho trabalhado. Seu objetivo neste templo se encontra à frente, guardado por um homem considerado por muitos como um santo. Um herói de uma insurreição passada. Faliel então quebra o silêncio.

- Deste ponto vocês não poderão passar. Apenas um servo de Pentar pode ultrapassar esta porta.

- Ah, sim, claro querido. E vamos deixar toda a diversão de matar um velho senil e semimorto somente para você. Eu posso acabar com esta porta com apenas um dedo!

- Faça isso seu maníaco, e terei que cavar duas covas. A do sumo-sacerdote, e a sua!

- Nossa... Você fica tão másculo assim... Eu fico até acanhado...

- Zado... Faremos como Faliel deseja. Ele tem este direito.

- E o que exatamente eu ganho com isso, ô grande e viril líder?

- Minha gratidão, e sua vida.

- Como se qualquer um de vocês pudesse me matar... hahahaha... Chega a ser deliciosamente cômico! Deixarei que você se divirta com seu superior Faliel, mas vou cobrar uma compensação... Talvez duas ou três virgens, e talvez um garotinho também... Mas, trataremos disto em um outro momento. Posso pelo menos incendiar esse forte?

- Faça como quiser pervertido, desde que não me atrapalhe.

- Aí que decidido! Estou todo arrepiado!

- Zado! Vamos.

- Até mais velhote.

- Tome cuidado senhor.

- Vão... Eu sei me cuidar.

Faliel ajeitou seu embrulho que estava amarrado as suas costas, e entrou.

O salão era grande, bem iluminado e mobiliado com várias tapeçarias, estatuetas, armas e escudos nas paredes, lustres de cristal, quadros e pinturas religiosas, instrumentos musicais diversos em outro, madeira, marfim, e gemas preciosas. No outro extremo do aposento, estava o grande Leopold Winterblade. Apesar de seus cinqüenta e três invernos, ele era um homem forte, impositor, trajava uma armadura de placas de metal brilhante e reluzente, uma túnica de seda negra prática, e em suas mãos uma espada larga e longa, cravejada de gemas claras e límpidas.

- Pagarás caro por tua blasfêmia invasor. Agora tu conhecerás a fúria e poder de Pentar.

- Não posso conhecer novamente aquilo que me é diário eminência. Servimos a mesma deusa.

- Eu sirvo, mas tu? És um herege! Darei-lhe a punição adequada aos de tua espécie.

- Haverá punição sim, mas não serei eu o punido.

Faliel desenrolou seu embrulho e o empunhou. Surge diante do sumo-sacerdote uma espada descomunal, sem guarda, de um vermelho vivo e lustroso como se estivesse banhada em sangue. Ao empunhar da arma, foi possível ouvir um rugido feroz, como se um imenso leão estivesse declarando sua fúria. O sacerdote não estava acreditando no que via diante de seus olhos.

- Esta... espada... Não pode ser! O Rugido do Leão!

- Sim, o Rugido.

- Quando tu encontraste esta arma? Ela pertencia ao maior assassino que esta geração conheceu! O Leão Negro!

- E este homem tinha um nome. Karifael Eversong.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Verdades Distantes

Ambos caminharam bosque à dentro com calma e em silêncio. Alexya parecia guiar Nuque, que por sua vez a seguia sem questionar.

Em sua mente o elfo analisava a garota a sua frente. Alta, corpo felino e atlético, mas ainda sim extremamente feminino, cabelos negros longos, finos e sedosos, olhos inteligentes, sedutores, e de um azul tão claro quanto o céu em uma tarde de verão, pele branca, em um branco atípico para esta região, em contraste óbvio e gritante com os cabelos escuros e os lábios vermelhos. Uma bela garota, pensou ele.

Assim que chegaram às margens de um riacho Alexya parou e virou-se para seu companheiro.

- Aqui não seremos interrompidos Nuque. Conte-me o que você quer aqui. E talvez você até seja tratado como um hóspede.

- Jovem Alexya...

- Sem galanteios Nuque. Isso até pode funcionar com outras garotas, mas como eu disse, eu sei me defender. E não sou tão inocente assim. Já tenho mais de quinze invernos, não sou uma criança.

O jovem elfo retirou seu manto para ficar mais confortável e encostou-se em uma árvore próxima. Ele trajava vestes de viajante, botas resistentes, e uma armadura de metal leve, bem como portava uma pequena e discreta lâmina em sua cintura.

- Jovem Alexya... Vou começar pelo começo. E eu acredito que você tem uma idéia errada sobre mim, meu motivo de estar aqui, e sobre você mesma.

- Eu sou filho de Dhoan Ruavellian e Eliia Ruavellian. Meu pai é um general dos exércitos de Finnian, e minha mãe foi uma das mais competentes pintoras de meu reino. Digo foi, porque ela já é falecida, tendo feito a passagem logo após meu nascimento.

- Meu pai encontra-se extremamente doente, e logo também fará a passagem. Tenho dois irmãos mais velhos, Aelethil Ruavellian, senhor da torre sul e mestre do estilo de combate da Flecha Branca, e Ryor Ruavellian, senhora das ondas e atual embaixatriz da casa Ruavellian em Vectoria. Ambos são frutos da primeira esposa de meu pai, que veio a falecer durante um ataque goblinóide à cerca de 230 anos atrás.

- Como sou seu filho mais... problemático, ele me incumbiu da missão encontrar todos os descendentes da casa Ruavellian, e trazê-los para que possam ouvir suas ultimas palavras. Meu pai é um homem rígido e dedicado à sua causa, mas não é um pai muito presente. Ele é um bom homem, e agora que se vê as portas do outro mundo, quer estar com os filhos por uma ultima vez.

- Sou o filho que não herdará nada. Não sou o primogênito, não sou um grande guerreiro, nem um grande diplomata. Mas ainda respeito meu pai o suficiente para atender-lhe um ultimo pedido.

- Você deve estar se perguntando por que eu estou lhe contando tudo isso não é mesmo? Pois bem... Meu pai ainda tem mais um descendente, um com o qual ele teve pouco contato, e ainda menos familiaridade. Isso é importante porque este descendente é você, Alexya.

domingo, 20 de setembro de 2009

Preparativos

Ambos pararam e montaram acampamento. Já estava escuro, a chuva havia parado, e a fogueira já estava acesa. Os últimos preparativos já estavam em seus finais, quando Faust quebrou o silêncio mais uma vez.

- Ele já deveria ter voltado.

- Você se preocupa demais garoto. Lembre-se de quem ele é.

- Acho que o senhor esta certo.

Subitamente ambos perceberam que a fogueira queimava com uma intensidade anormal. O fogo estava grande demais, quente demais, vermelho demais. Rapidamente alcançaram suas armas e esperaram.

Das chamas surge um homem feito de fogo, mas em poucos segundos o fogo volta ao normal e revela um homem alto, magro, de cabelos longos e negros, vestes negras com várias runas em um verde doentio e brilhante, bordado com detalhes em ouro em suas bordas. Luvas metálicas de um brilho levemente esverdeado. Uma máscara de porcelana branca cobria seu rosto, apresentando feições de um sorriso macabro e diabólico.

- Por Pentar! Não seja tão espalhafatoso Zado!

Faliel e Faust abaixaram suas armas assim que reconheceram o companheiro.

- Me perdoem a... Foi maravilhosa esta perfomace não foi meus queridos?

A voz de Zado era bela e sonora, porém carregada de uma malícia rivalizada por poucos.

- Evite este tipo de coisa Zado. Nem todos somos pacientes com brincadeiras em excesso.

- Porque toda esta raiva querido Faust? Não esta feliz em me ver? Posso ir embora se você quiser...

- Deixe esta conversa feminina de lado Zado! Trouxe o que eu lhe pedi?

- Ah, mas estamos muito rabugentos hoje Faliel. Dependendo do que eu ganhar eu posso ter trago. O que você pode me oferecer?

- Pare com esta conversa afeminada Zado! Trouxe ou não?!

- Hahahahahahaha... Você me diverte Faliel. É tão lindinho quando irritado...

- Seu depravado filho de uma...

Faliel foi silenciado por Faust que apenas assistia a estranha conversa.

- Zado, já basta. Responda seu companheiro, e pare com estas brincadeiras, pois, não gostamos deste tipo de diálogo.

- Tudo bem Faust. Vou parar de brincar com seus sentimentos másculos e viris... Sim velho. Trouxe sua maldita caixa.

Zado apresentou uma caixa quase tão alta quanto ele, e quase tão larga. Feita de madeira robusta e lustrosa, trancas de ouro e um pequeno entalhe com a cabeça de um leão em sua tampa. Faliel pegou a caixa e se retirou para sua tenda.

Após alguns minutos todos os três estavam novamente frente a frente.

- Então chegaremos ao templo quando?

- Daqui a dois dias Zado. Espero que tenha vindo preparado.

- Eu sempre estou preparado. Aliás, isto me lembra que devo me recolher para descansar, afinal, ainda preciso estudar minhas magias para esta missão. Com licença lindos.

O mascarado caminhou até sua tenda e não mais voltou até a manhã. Apenas Faliel e Faust ficaram para seu jantar e para guardar o acampamento. Entre a mordidas de suas refeições eles voltaram a conversar.

- Ele me dá nojo.

- Ele é nosso companheiro senhor.

- Ainda sim. Não poderia ele conversar como um homem?!

- Ele sempre foi assim, desde quando nós o conhecemos. Piorou depois daquilo.

- Somente um homem depravado como ele poderia conseguir aquilo. Imortalidade. Mas o preço...

- Realmente.

- E tudo porque estávamos lutando naquela maldita guerra. Nunca precisaríamos ter ficado sabendo daquilo se não estivéssemos no abismo.

- Eu ainda acho que ele pagou um preço alto.

- E eu acho que ele adorou cada momento.

- Não sei. Ele sempre foi mulherengo, mas...

- Eu sei. Ainda sim eram criaturas demoníacas.

- Algumas eram belas, mas outras eram asquerosas.

- Trinta e sete! Como, em nome dos deuses, ele aceitou fornicar com todas as trinta e sete filhas da general? Algumas delas pareciam mortas por semanas!

- Mas algumas poderiam facilmente roubar até mesmo a fúria de um deus!

- Sim... Mas o que me intriga foi que ele gostou! Como ele conseguiu funcionar com a mais velha, por exemplo?! Ela era mais horrenda do que o cadáver apodrecido de uma bruxa mutilada! E tinha mais feridas do que uma leprosa! E ainda fedia a pus!

- Não sei explicar senhor. Mas só de lembrar dessa já me fez perder o apetite.

Ambos os homens riram. E não notaram a figura magra e alta que os observava de sua tenda. Por detrás de sua máscara Zado sorriu e salivou antes de sussurrar.

- Meu apetite por poder não conhece fronteiras...

Revelações

Os três entraram na simples cabana. Alexya, seu avô, e o estranho visitante.

Assim que entrou, o visitante retirou seu capuz, revelando um rosto masculino de grande beleza. Cabelos loiros longos e finos, olhos dourados quase metálicos, nariz fino e nobre, boca bonita e sincera, queixo firme, pele levemente bronzeada, orelhas longas e pontiagudas com dois brincos de pedras esverdeadas e reluzentes. Um exemplar de grande beleza de um jovem elfo.

Alexya olhou admirada. Era a primeira vez que ela via um elfo. E também era a primeira vez que ela via um homem tão belo. Mesmo com o manto que ainda cobria seu corpo e suas roupas, era perceptível que ele tinha um porte físico capaz, atlético, forte.

- Bela cabana Leolaf. Simples, principalmente para alguém como tu, mas ainda sim aconchegante. Vejo que realmente tens o dom para a carpintaria.

- Sinta-se em casa Capitão. Sente-se, lhe trarei um pouco de chá.

- Obrigado Leolaf.

O estranho sentou-se à simples mesa da cozinha.

Alexya não estava conseguindo se conter. Esta era uma novidade que ela poderia contar para as amigas por dias.

- Capitão?! Você é um soldado?

- Alexya! Não seja rude.

- Tu não sabes quem eu sou jovem?!

Alexya agora olhava para o visitante com uma expressão de dúvida.

- [Leolaf. Você não contou a ela?!]

- [Nunca achei que fosse ser necessário.]

- [Pois agora é mais necessário do que nunca! Eu mesmo contarei então!]

- [Não!]

- [Não?! Prefere privá-la da verdade?]

- [Eu... Entendo. O faça com calma. Será um grande choque para ela.]

- O que vocês estão falando?! Porque estou sendo deixada de fora? Que idioma é esse que vocês estão usando?

- Vejo que também não conheces o idioma élfico jovem Alexya.

- Élfico?! Vovô! Porque você não me ensinou élfico?!

- Não se preocupes jovem, explicarei tudo.

Leolaf trouxe o chá para a mesa e sentou-se em uma das cadeiras. O visitante tomou um gole do chá e se levantou.

- Meu nome é Nuque¹ Ruavellian². Encantado em conhecê-la jovem Alexya.

O elfo estendeu uma das mãos a Alexya enquanto fazia uma elaborada reverência. A jovem não sabia exatamente como se comportar e entregou sua mão direita ao visitante.

Nuque beijou de forma plácida e carinhosa a mão de Alexya, que ficou sem saber exatamente o que deveria fazer.

- Leolaf, gostaria de pedir tua permissão para escoltar a jovem Alexya em um passeio nesta bela tarde. Isto é, se esta permitir que eu assim o faça.

- Sou o avô dela, não o guardião. Mesmo que você tente algo, ela saberá se defender.

- Neste caso vovô, eu vou passear com ele. Tenho algumas perguntas...

- Voltaremos logo Leolaf. Apenas gostaria de explicar as coisas a ela de modo mais cordial.

- Não se preocupe senhor Nuque, como disse meu avô, eu sei me defender.

- Por favor, senhor não. Sou jovem demais para tal prefixo. Chame-me apenas de Nuque.

A jovem sorriu e saiu da cabana. O elfo a seguiu após alguns segundos, e assim ambos partiram para o bosque.

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Texto em Azul: Tradução do élfico;

¹: Traduzido do élfico (Esperança Perdida);

²: Traduzido do élfico (Senhor da Lâmina Estelar);

domingo, 13 de setembro de 2009

Planos

Já era noite e estavam ambos sentados à volta de uma fogueira. Comiam carne, pão, queijo, e hortelã. Eles não haviam trocado sequer uma palavra desde a chuva da tarde anterior, mas também já estavam acostumados a isso. Amos eram homens de poucas palavras, homens da espada. Foi Faust quem quebrou o silêncio desta vez com sua voz rouca e forte, porém límpida e segura.

- Sobre nosso próximo objetivo...

As palavras foram cortadas pelo companheiro.

- Sobre o próximo objetivo não há nada a ser questionado garoto. Faremos conforme o planejado. Sem nenhuma mudança.

- O senhor tem certeza sobre isso? Pergunto isso porque és um homem religioso. Não é como um saque em alguma ruína esquecida desde a era das chuvas.

Ambos comeram mais uma porção de suas refeições.

- Sou um homem da fé como você diz garoto, mas também sou um homem que, assim como você, anseia por mudanças. O bastão é necessário.

- Não acredito que o bispo o entregará. Teremos que tomá-lo a força. Haverão guardas, armadilhas. Não poderemos apenas desacordá-los.

Faust fez uma pausa em seu jantar, Faliel não.

- Não, não poderemos. Teremos que matá-los.

- O senhor fala isso sem remorso.

- É o que deve ser feito.

- O que acontecerá ao senhor?

Faliel também faz uma pausa em suas mordidas.

- Serei tratado como herege por meus irmãos. Um renegado, assassino, ladrão, traidor...

- E ainda sim se mantém disposto a fazê-lo?

- Eu tenho fé garoto. Se para concretizarmos nossos planos eu tiver que ser rotulado de algo assim, é um sacrifício minúsculo.

- Entendo...

Ambos voltam a comer.

- Apenas uma coisa me intriga... O senhor sabe qual é o meu objetivo. Zado não se interessa, pois, para ele que não pode morrer é indiferente, mas o senhor...

- Sei de sua índole garoto. Sempre soube. Sei o quão negro e maligno é seu coração. O que me faz segui-lo não é isso.

- O que faz então sacerdote?

- Sua índole. Você me lembra dele. Audaz, destemido, decidido, cabeça-dura. Acho que vocês até poderiam ter sido amigos... Ou rivais.

- Senhor...

- Coma garoto. Não se preocupe com este velho. Tenho motivos para fazer o que faço e permitir que você faça o que faz. Como eu disse antes, eu tenho fé. Isso me basta.

- Não esquecerei isto senhor.

- Esquecerá sim, mas estou preparado para isso. Quando chegar o momento, poderei ver algo glorioso. Algo que nenhum mortal jamais presenciou. Morrerei feliz. Você cumprirá o destino dele.

- Não me esquecerei disto pai.

- Coma garoto. Ainda há um oceano de sangue a ser derramado antes que você possa ficar parado refletindo. Meu trabalho é impedir que você se afogue nele.

Ambos voltaram a comer.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Um Convidado Inesperado

O caminho até a simples cabana era rápido, mas ainda sim fora da aldeia. Alexya olhava admirada para seu avô. Ele percebeu e lhe perguntou o que ela olhava. Ela respondeu que queria saber por que ele vivia naquela aldeia. Ele sorriu e respondeu que gostava das maçãs. A jovem apenas riu.

- Você se portou bem hoje Alexya. Parece que você prestou atenção ao que eu ensinava afinal.

- Claro que prestava atenção! Só achava que nunca iria usar.

- Hahahaha... Você nunca sabe quando vai precisar se defender neste mundo minha neta, por isso, é sempre importante estar preparada!

- Eu sei, eu sei...

Ambos sorriram. E já estavam próximos à sua cabana.

- Vejo que não perdestes a forma apesar do passar dos anos velhote!

Tanto Alexya quanto seu avô se viraram rapidamente para a voz que surgia do nada.

- Quem está aí?

- Um grupo de orcs. Impressionante como tu a ensinastes velhote.

Ao lado da cabana surge uma figura encapuzada dos pés a cabeça. O rosto oculto pelas sombras do manto.

- Quem é você? O que você sabe sobre minha neta? O que você quer?

- Muitas perguntas velhote. Será que os anos lhe fizeram esquecer-se das vozes de teu passado? Ou será que tu apenas não reconheces um antigo conhecido? Não esperava isso da Morte Ruiva...

A voz do misterioso visitante era bela e melodiosa, mas carregada de malícia.

- VOCÊ?! O que faz aqui?

- Reconhecimento afinal. Primeiro mostre tuas maneiras velhote. Entremos, ofereça-me uma bebida, e deixe-me aproveitar de tua hospitalidade. Após isto, falaremos do motivo de minha visita.

O avô de Alexya demonstrava claramente que não gostava do misterioso visitante, mas ainda sim, convidou-o para entrar. Os três adentraram a simples cabana.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O Andarilho da Alvorada

Os três decidiram voltar para seu refúgio. Como de costume Zado usou de seus poderes arcanos para se teletransportar junto à pilhagem para seu refúgio, onde ele iria contar, catalogar, separar, analisar, e fazer toda sorte de procedimentos de segurança arcana com cada um dos itens. Tanto Faust quanto Faliel até preferiam desta maneira, pois, a curiosidade e meticulosidade do mascarado aparentemente não conheciam limites. Assim que ele partiu, os dois começaram sua viagem de volta. Faust seguindo em sua montaria ao contrário de Faliel, que corria ao seu lado.

Faust já estava habituado a este costume de seu companheiro, mas aqueles que viam achavam impossível um homem do porte do sacerdote, encasulado em uma couraça pesada, com um arsenal de armas presas em suas vestes correr junto a um cavalo, ainda mais por um percurso de duas semanas de cavalgada. Faust era um dos poucos que sabiam o porquê deste esforço bizarro.

O guerreiro sabia que ao seu lado corria o último Andarilho da Alvorada, um sacerdote de Pentar, a deusa das batalhas, pertencente a uma antiga e extinta ordem monástica. Faliel seguia com fervor fanático cada um dos vários tabus de sua ordem, e um destes era justamente nunca depender de animais para locomoção. Assim como sempre aparar os cabelos uma vez por mês, tomar pelo menos um banho por dia, nunca ingerir álcool, nunca usar jóias, nem mesmo as de natureza mágica, sempre portar no mínimo três armas, nunca usar a cor branca, sempre guardar a primeira porção de comida para seus companheiros, e outros vários mandamentos entendidos somente para os sacerdotes.

Faliel já era um guerreiro de poder quando ingressou no culto à Pentar. O que fez um homem que vivia pela espada procurar respostas na fé era algo que nem mesmo Faust sabia responder. Uma única vez Faust perguntou a seu companheiro o motivo, e a resposta silenciou o guerreiro para sempre quanto a este assunto. O fato era que Faliel já era um homem de certa idade quando se encontrou com Faust pela primeira vez. Hoje ele passa dos quarenta invernos, mas tem mais vigor que jovens de vinte.

Faust foi desperto de seus pensamentos pela voz calma de seu companheiro:

- Mais à frente teremos chuva garoto. Espero que tenha trago seus cobertores. Pentar quer que lavemos nossos corpos. Vou orar e agradecer por esta dádiva.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

As cinzas de uma vida

O combate havia terminado. Alexya e seu avô conseguiram proteger sua aldeia e salvar os aldeões. Alexya estava esgotada. Nunca havia lutado de verdade e sua primeira batalha foi um grande teste para suas habilidades. Quatro orcs. Quatro grandes, malvados, e violentos orcs. Seu avô parecia bem, um veterano como ele teve que se esforçar muito pouco, apesar da idade avançada, para abater os oponentes. Algo que a jovem descobriu após alguns minutos de reflexão sobre esta manhã.

Os aldeões saiam aos poucos de seus esconderijos em suas casas. Logo estavam todos reunidos. Os homens começaram a colocar os corpos em uma carroça para que pudessem ser incinerados. O chefe da aldeia agradeceu pela ajuda de Alexya e seu avô. Ele estava impressionado com as capacidades de combate da jovem, mas, lembrando-se de quem era seu avô ele acabou por ficar sem entender porque um homem como ele havia decidido viver uma vida pacata em uma aldeia isolada.

Alexya se perguntava o mesmo. Por que aquela aldeia, por que aquela vida simples, por que ele a treinara desde os doze anos se ele próprio era um homem pacífico. A jovem foi retirada de seus devaneios pelo chamado de seu avô para que retornassem à sua casa.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O Martelo das Tempestades

Faust empurrou o pesado portal de pedra. Era uma tarefa árdua até mesmo para alguém com sua força. Ajudado por Faliel e Zado, o portão finalmente cedeu e a luz das tochas iluminaram a câmara pela primeira vez em milênios. Era uma sala grande, com várias peças de arte espalhadas pelas paredes cobertas de teias. O chão estava bem empoeirado e pequenos animais e insetos fugiram dos aparentemente ensurdecedores ruídos que os três faziam.

Zado estava maravilhado com a quantidade de riqueza da sala. Livros, tomos, pergaminhos, jóias, quadros, estátuas, pedestais. Tudo chamava a atenção do mago, mais por seu valor histórico do que por seu valor monetário. Faliel olhava indiferente para toda essa quinquilharia inútil. Faliel sempre foi um homem prático, e um homem da guerra. Nunca tivera tempo para arte e história, e não sentia falta deste tempo. Tempo que foi investido em algo mais proveitoso, como ele gostava de pensar, em aprimorar suas já surpreendentes capacidades de combate.

Faust procurava algo bem mais específico. Seus olhos buscaram rapidamente até encontrar o que buscava. Em um altar de mármore no fundo da sala ele avistou o que procurava. Um globo de um material estranho, um tipo de metal que parecia sugar toda a luz que o atingia. Em seu interior rodopiavam nuvens turbulentas e tempestuosas que pareciam avisar sobre uma grande tempestade que estaria ainda por vir. O Martelo das Tempestades! Após uma década de buscas ele finalmente encontrou a arma que lhe garantiria a possibilidade de realizar seus sonhos. Faust se permitiu esboçar um discreto sorriso, detalhe que somente Faliel percebeu.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Um Ataque Inesperado

Era uma bela manhã de primavera. O sol brilhava claro no céu, os pássaros cantavam uma bela sinfonia, o riacho chiava suave e calmo, e o vento soprava uma brisa leve e fresca. Alexya havia escapado de mais um dia de treinamento com seu avô para colher flores no bosque. Seu avô era um bom homem e a tratava com muito carinho, mas, estes treinos com armas e armaduras eram cansativos. Ela gostava das histórias que ele contava, sobre quando era um aventureiro que viajava pelo mundo, sobre os monstros e os tesouros, mas acima de tudo, do mundo fora da pequena aldeia onde Alexya havia nascido e vivido até hoje.

Já devia ser hora do almoço, pois, seu estômago já ansiava pelo suculento pernil que ela sabia que a esperava. Enquanto voltava para sua casa Alexya ouviu algo. Não sabia exatamente o que, mas, tinha a impressão de que não eram os animais do bosque. Parecia um som distante a princípio, porém, sua intensidade aumentava. Parecia aproximar-se. Ficava mais nítido. Eram vários sons diferentes. Aparentemente os sons vinham de sua aldeia.

Alexya teve um mau pressentimento e correu para sua aldeia. Os sons agora ficavam bem mais claros e distintos. Eram sons de batalha. O som de aço batendo em aço acelerou o passo de Alexya. Sua aldeia estava sendo atacada! Alexya chegou quase ao mesmo tempo que os atacantes. Ela correu até sua casa e suspirou aliviada ao perceber que eles ainda não haviam chegado a ela. Seu avô já a esperava vestindo sua armadura e com sua espada desembainhada. Ele entregou a ela outra armadura e uma espada, e disse que eles deveriam proteger a aldeia.

Ambos partiram sem demora para o centro da aldeia com o propósito deter os invasores. Eles não eram muitos, mas, os aldeões estavam apavorados. A maioria nunca usou um arma e os ferais já as usavam a muitas eras. Eram cerca de vinte ferais contra um punhado de aldeões aterrorizados, mas, felizmente Alexya e seu avô chegaram bem a tempo de salvá-los de uma morte cruel. Para Alexya tudo estava acontecendo muito rápido e ela não parecia acompanhar seu idoso avô. Ele se move muito rápido para um homem de idade, pensou ela, quando chegaram aos atacantes.

O avô de Alexya já estava sobre os invasores quando Alexya viu o primeiro feral. Alexya quase não conseguiu desviar-se do machado da criatura devido ao susto e a emoção de sua primeira batalha real. Mas o susto a acordou de seus pensamentos e ela percebeu que os treinos haviam valido à pena. Ela sabia o que fazer e quando fazer, e o feral surpreendeu-se quando teve a barriga perfurada pela espada da jovem. Alexya não percebeu quando instintivamente partiu para o próximo inimigo, inconscientemente sabendo que já havia derrotado o primeiro oponente.

O combate com o segundo feral foi bem mais demorado. A criatura nojenta havia visto o que ela fizera a seu companheiro e decidiu que não deveria menosprezar a garota apesar da aparência dela. Alexya desviou-se do primeiro golpe de machado do oponente e aparou o segundo com a espada, e logo almejou o peito do oponente, mas a criatura bloqueou o ataque com o cabo do machado e desferiu um soco violento contra o rosto de Alexya. Ela foi pega de surpresa pelo golpe e sentiu o gosto de seu próprio sangue pela primeira vez, bem como uma dor muito intensa no maxilar.

O feral, sentindo-se vitorioso, mirou o golpe de seu machado contra o abdômen de Alexya. Ela se recuperou do soco e não percebeu quando seu corpo agil por instinto e bloqueou o golpe com a espada e já preparava o contragolpe contra o abdômen de seu oponente. O feral bloqueou o golpe, mas, não esperava a retribuição do soco em seu focinho, privando-lhe do equilíbrio, e garantindo assim a abertura em sua defesa que a garota soube aproveitar com um corte profundo em suas costas. A criatura praguejou algo inaudível enquanto seu corpo caía rumo ao chão de terra batida.

Alexya virou-se para procurar pelo avô e surpreendeu-se ao perceber que ele já havia abatido oito deles. A jovem se perguntava como um homem com mais de cinqüenta anos poderia ser capaz deste feito, mas seus pensamentos foram interrompidos por mais um oponente. O feral balançava seu machado de forma violenta e aleatória. Alexya quase não conseguiu esquivar-se do golpe rápido da arma que visava sua cabeça. A jovem preparou seu golpe.