Clawyn deixou as toalhas macias e perfumadas próximas, de modo que poderiam ser alcançadas com rapidez. Ambas decidiram que já estava na hora de sair e se vestirem para juntarem-se a seus companheiros na taverna.
A elfa saiu primeiro para oferecer um último agrado, segurando a toalha para que Alexya pudesse se enrolar antes de deixar a banheira. A jovem humana então continuou a conversa.
- Então você foi criada em uma academia para magos?
- Não magos. Magas. Uma academia somente para garotas. É muito comum que famílias ricas de Fionian mandem seus filhos e filhas para escolas internas.
- Sendo seus pais mercadores, faz sentido. Mas como você aprendeu estas coisas sobre banhos? Sendo rica você deveria aprender a ser a soberana, e não a serva.
- Na verdade nós éramos ensinadas a sermos boas esposas. Treinávamos banhos, massagens, corte, costura, corte de cabelos, culinária, dança, canto, e música. Eu, particularmente, gostava muito das aulas de harpa e lira.
A elfa falava com empolgação atípica e satisfação genuína.
- Você será uma excelente esposa Clawyn!
- Não serei não. – Disse a elfa em um tom triste – Acho que não serei uma esposa.
- Por quê?
- É... complicado... n-não sei e-explicar...
- Tente. Quem sabe eu não posso ajudá-la?
- A-acho que n-não... é a-algo...
Alexya se aproximou da tímida elfa.
- Você... Nunca... Ah... Apaixonou-se?
- B-bem... n-não é q-que n-nunca... é q-que...
- Acho que entendo. Você nunca esteve com outros homens não é mesmo?
- N-não...
- E isso a deixa inquieta.
- S-sim...
- Você precisa de umas aulas sobre isso. Já tentou falar isso com a Tadre? Ela parece entender mais sobre homens.
- Não! Ela é diferente. Ela é sedutora. Voraz. Cheia de vida. Segura. Livre.
- Melhor ainda! Ela deve saber o que fazer!
- Acho que não... Ela não poderia me ajudar...
- Por que não?!
- P-porquê eu n-não sou c-como ela... E-eu s-sou d-diferente...
- Como assim?!
- Por Belandros... Assim!
E subitamente a jovem elfa beijou a surpresa humana. Um beijo apaixonado, gentil, doce, inocente, e espontâneo. Um beijo dado com a certeza de ser o de uma jovem mulher revelando sua paixão pela primeira vez.
Alexya estava absolutamente surpresa. Sem reação. Era como se um raio a atingisse e tudo a sua volta estava distorcido e distante. Até mesmo os sons das vozes da taverna no andar abaixo perderam força.
Clawyn afastou-se após o beijo, envergonhada de seu ataque à sua nova amiga. Enrolando-se desajeitadamente em sua toalha e chorando dolorosamente por sua falta de pudor, etiqueta, tato, e respeito. Nunca ela havia cedido aos seus impulsos, mesmo os tendo claros em seu imaginário. A elfa sentia-se suja, maligna, indecente, e manipuladora.
Alexya recuperou-se do choque do ocorrido. Foi seu primeiro beijo. E lhe foi roubado por uma garota. Em uma estalagem as margens do reino de Finnian. Onde tanto o olho vermelho quanto o olho azul brilhavam no veludo noturno. Ela se aproximou da elfa.
- Clawyn... Não chore.
- M-mas...
A elfa foi interrompida pelos lábios de Alexya que a beijavam de uma maneira tão terna que a elfa nunca tinha pensado ser possível.
As toalhas caíram ao chão molhado enquanto duas jovens descobriam o amor em sua forma mais pura e verdadeira. Ambas pensavam em sincronia: Que os deuses as perdoem, mas não lhes seria negada a chance de amar.