quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Entre Mulheres

As três entraram no quarto. Era um quarto grande, porém, simples. Quatro camas, uma pequena arca aos pés de cada cama. Janelas pequenas, uma banheira, dois armários de madeira. Clawyn foi a primeira a falar.

- Bem vinda ao nosso humilde aposento jovem Alexya. Você pode escolher uma das camas e deixar suas coisas aqui. A menos que você prefira a companhia do seu companheiro.

- Ele... É meu irmão.

- Mesmo menina?! Bom saber!

- Tadre! Tenha modos. Não é uma coisa adequada para uma dama falar coisas assim.

- E quem disse que eu sou uma dama Clawyn?! Ele é bonito, alto, aparentemente forte. Meu tipo de homem!

- E qual homem não faz o seu tipo Tadre?

Ambas as mulheres riram e voltaram-se para Alexya que estava vermelha e calada.

- Então seu nome é Alexya. E você é irmã do elfo. O que mais você tem de história para contar?

- Tadre! Não a trouxemos aqui para um interrogatório. Por Belandros! Às vezes eu me pergunto se você é mesmo uma mulher.

- Ora vamos Clawyn. Vai me dizer que você também não achou ele um belo espécime?

- Ele é belo, sim, mas temos que ser educadas com nossa nova amiga. Veja! Ela ficou toda acanhada com este tipo de comentário.

- Bem... Acho que o que você diz é verdade. Eu ainda não me acostumei à idéia de que ele seja meu irmão. Fiquei sabendo há três dias. Acho que ele é bonito sim.

- Muito me estranha ele ser amigo de Duran. Ambos não tem absolutamente nada em comum.

- Se não me engano, eles freqüentaram a academia de Finnian juntos. Nem todos aprenderam as coisas com a vida Tadre. Alguns de nós foram instruídos por professores, tutores, e mestres.

- Ainda sim. Duran não é feio, mas ele bem que poderia ser mais vaidoso. Às vezes eu acho que ele mais parece um bárbaro das Grandes Planícies do que um militar treinado.

- Nisso eu tenho que concordar. Mas deixemos estes assuntos para um outro momento. Alexya, você gostaria de um banho? Posso ajudá-la se quiser.

- Acho que eu não preciso de ajuda quanto a isso...

- Não seja boba. Vou aquecer a água para você, e ajudá-la a lavar seu cabelo. Talvez algumas fragrâncias na água, toalhas macias, óleos.

Tadre observou Clawyn com um olhar malicioso.

- Por que você nunca me ofereceu um banho assim Clawyn?

- Ah... bem... eu... Você nunca... Nós nunca tivemos a oportunidade. É isso.

- Nada contra você Alexya. Mas ela nunca me tratou assim. Fiquei com um pouco de ciúmes.

- Eu... eu... Eu posso preparar um p-para você também Tadre. Só achei que v-você não gostasse destas c-coisas luxuosas. E-eu...

- Realmente, eu não gosto muito. Façam como quiserem. Eu vou beber algo com os homens.

- T-tudo bem. Ah... Alexya, s-se você achar que é m-muito, e-eu entendo...

- Acho que vou aceitar o banho. Você o ofereceu tão empolgada que parece ser algo excelente.

- M-mesmo?! Vou preparar tudo!

Enquanto Clawyn fazia os preparativos com uma felicidade radiante, Alexya terminava de colocar suas coisas no quarto. Nenhuma das duas notou o sorriso malicioso no rosto de Tadre enquanto ela fechava a porta do quarto.

Assuntos Masculinos

Os homens encontraram uma mesa adequada. Poderiam conversar sem problemas e com privacidade. Havia espaço para a comida e a bebida. Trevor sentou em uma das cadeiras e deixou o corpo relaxar enquanto ajeitava sua caneca na mesa. Nuque fez o mesmo.

- É realmente muito bom vê-lo irmãozinho. Mas cá entre nós... Irmã?! Você já foi mais criativo...

- Desta vez é verdade Duran. Meio-irmã, mas ainda sim, sangue do meu sangue.

- Verdade? E como foi isso?

- Meu pai pediu que eu a encontrasse. Ele está próximo da passagem.

- Lamento saber. Seu irmão será o novo General Prateado então?

- Acredito que sim. Ele é o primogênito. E também um soldado bem mais experiente, estrategista brilhante, líder firme...

- E não se esqueça de arrogante, cretino, e chato!

- Ele nasceu e foi criado para substituir meu pai quando fosse o momento. Já estava escrito.

- Talvez sim. E você? Como fica nisso?

- Minha irmã Ryor acredita que eu deva aceitar o título de Margrave.

- Imagino que sim. Ela será Ducis afinal de contas. Mas não foi isso que eu perguntei.

- É, eu sei amigo. Para ser sincero, não pensei sobre o assunto. Você sabe que eu não gosto destas coisas de política. Além do mais, meu pai nunca gostou muito de mim. Continuarei um homem pobre.

- E justo agora que eu tinha a esperança de ter um amigo nobre...

Ambos riram de forma sincera e amigável. Trevor então se esticou e usou um tom mais baixo.

- Há um prêmio pela sua cabeça irmãozinho. Alguém quer você morto. E esta disposto a pagar muito por isso.

- Fiquei sabendo disso. Quanto?

- Duas mil.

- Halendor! Uma quantia dessas deve ter atraído metade dos assassinos do mundo!

- Na verdade sim. Até me fizeram uma proposta. Doze mil pelo incômodo de trair a sua amizade e privar-lhe de seu coração.

- E você?

- Dançaria com um vestido de meretriz amarelo à frente desta horda de assassinos antes de sequer pensar sobre o assunto.

- São muitas moedas Duran. Poderia comprar conforto para o resto de seus dias.

- E eu perderia a dignidade ao trair nossa amizade. Não, obrigado. Eu passo! Além do mais... Você nem vale isso tudo!

- Ei... Eu ainda não fiz nada com suas amigas. Estou sendo cavalheiro!

- Eu não poderia trair você irmãozinho. Não depois da academia. Eu ainda guardo comigo.

- Guarda com você? Do que você esta falando?

- Disso! – E Duran mostra uma ponta de flecha presa a uma corrente em seu pescoço. – Essa pequena ponta de flecha deveria ter me matado. Mas não matou. Não matou porque seu braço vigilante estava ali para me salvar. Enquanto eu viver, eu irei retribuir isso irmãozinho. Nada, nem ninguém vai matar você enquanto eu puder impedir.

- Obrigado Duran.

- Ah... Isso soou muito afeminado? Fiquei preocupado agora...

Ambos os homens riram alto enquanto brindavam ao seu reencontro.

Olhos da Morte

Um golpe forte. Duas defesas rápidas. Outro golpe poderoso. Dor. Sangue. Seu sangue que escorria pelas frestas de sua armadura pesada. O combate estava ficando desfavorável. Faust já havia sinalizado à Faliel seu intuito. Bastava agora criar a abertura para sua manobra. Seria fácil se não houvesse tantos deles. Ele precisaria lidar com os que estavam á sua volta primeiro.

Zado estava ficando sem magias. Já havia incinerado uma dezena das criaturas, mas ainda sim estava sendo cercado por elas. Seu corpo já havia sido ferido em vários lugares e isto estava afetando sua concentração e sua mobilidade. Se um dos seus companheiros não vier em seu auxílio, ele será um alvo fácil para os inimigos.

Faliel percebe que algo esta anormal. Os oponentes são muito numerosos, bem treinados. Algo não está certo. Zado esta em situação complicada. Rodeado de inimigos ele é quase tão indefeso quanto uma criança. Faliel precisa ajudar seu companheiro, mas a única forma de fazer isso lhe impediria de ajudar Faust em sua manobra. Pelo menos inicialmente, sua tendência seria deixar o feiticeiro ser massacrado, mas, seu líder desaprovaria. O cavaleiro negro teria que esperar. Ele precisa do mago vivo. Faliel detesta ter que recorrer ao seu dom dos tempos de nômade, mas não há outra maneira.

- Pentar! Eu lhe suplico! Feche meus olhos com a escuridão de meu passado!

Ouvir estas palavras sempre alertava Faust de que Faliel estaria indisponível por alguns minutos. Zado deveria estar encurralado para ele se valer deste poder.

Zado já tinha uma opinião mais profunda. O estado de espírito que o sacerdote invocava era muito perigoso. Perigoso o suficiente para que ele não tivesse plena confiança nas ações do companheiro. Ele sabia que haveria uma montanha de corpos quando ele parar de lutar, mas isso também significava entrar em um coma induzido por mais de uma semana. Era uma das poucas coisas que aterrorizava o feiticeiro. Os olhos negros e sem vida de seu companheiro traziam a morte, de tudo e de todos. Apenas Faust conseguia segurá-lo nestes casos, e mesmo assim a custos elevados.

Os olhos de Faliel escureceram. Sua boca abriu em um rugido bestial e primitivo. Seus músculos estalavam em espasmos súbitos e monstruosos. Ele saltou em direção dos inimigos. Sua maça era tão poderosa que era possível ouvir os ossos das criaturas estilhaçando sob sua carne. Os golpes de seus punhos eram duros como aríates. Sua velocidade era inumana. Monstruoso. Nem mesmo o couro resistente dos dracotauros resistia ao impacto dos ataques do sacerdote em transe profano.

O terror se espalhou entre as criaturas. Apavoradas, elas buscavam parar o sacerdote. Suas mentes primordiais sabiam que ele era a maior ameaça ali. Um predador natural para eles que não tinham um predador. Mesmo aqueles que estavam em combate com os outros passaram a buscar uma maneira desesperada de parar aquele humano, antes que ele voltasse sua atenção a eles.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Cartas

O rapaz amarrou o assassino com cordas firmes e pediu para que o taverneiro chamasse a milícia local para prender o assassino.

- Você deveria ter mais cuidado elfo. Se não fosse por nossa ajuda, você estaria morto agora.

- Se vocês não estivessem aqui, gordão, eu teria cuidado de tudo sozinho.

- Isso me soou como um desafio...

- Saque!

Ambos sacaram e mostraram uma carta de papel no mesmo tamanho de uma carta de tarô.

- Argh! Martelo!

- Exatamente elfo! Sua vez de pagar as bebidas!

Ambos começaram a rir e se abraçaram.

- Bom ver que ainda não perdeu seu charme Nuque.

- É bom ver você também Trevor! E quem são suas companheiras?

As duas mulheres e Alexya se aproximaram da dupla.

- Nuque, tenho o imenso prazer em lhe apresentar minhas companheiras de viagem. Tadre e Clawyn! Garotas, este é meu grande irmãozinho Nuque! E quem é esta gracinha de menina que esta te acompanhando Nuque? Sua nova namorada?

- Deixe de palhaçada Trevor! É minha irmã, Alexya.

- Você nunca me disse que tinha uma irmã. Muito menos uma bonitinha! Deve ter puxado a outra parte da família!

Alexya ficou vermelha e não conseguia responder.

- Por Belandros! Você é muito grosseiro Duran! Ela ficou envergonhada. Brutamontes. Prazer em conhecê-la Alexya. Eu sou Clawyn Therae, e esta é Tadre “Meliatrum” Kadmas.

Alexya observou as duas mulheres e balançou a cabeça de forma tímida. Clawyn era uma elfa. Muito bonita, baixa, delicada, de cabelos dourados e encaracolados longos e bem tratados. Olhos azul turquesa, pele clara e radiante, mãos delicadas. Ela vestia robes brancos, com detalhes dourados e em um tom de azul que lembrava Alexya do céu em uma tarde calma de outono. Ela tinha uma voz clara, musical, quase hipnotizante, porém baixa e quase sussurrada.

Tadre já era uma mulher completamente diferente. Alta, bronzeada, corpo atlético e felino. Cabelos em um vermelho vivo e brilhante cortados curtos, mãos fortes com dedos longos, olhos dourados e inquietos, extremamente sensual até em seu modo de andar. Ela vestia uma armadura de couro reforçada com rebites de metal, botas resistentes. Tinha uma voz grave e alta, mas ainda sim feminina, uma voz de uma guerreira adicionou depois de algum tempo. Dois traços chamavam atenção em Tadre. Primeiro suas tatuagens em seus braços e seu pescoço. Mas o traço que mais destacava ela de qualquer outra mulher era seu majestoso par de asas emplumadas no mesmo tom de seus cabelos.

Tadre foi a primeira a falar algo.

- Muito bem meninos. Vocês tratem de conseguir uma mesa para nós damas. Enquanto isto, vamos subir aos nossos quartos com nossa nova amiga para quebrar o gelo e explicar todos os segredos maliciosos sobre vocês homens fortes e viris.

- Mas Tadre, eu apenas...

- Ela está certa Duran. Você é muito indecente. Além do mais, ela deve estar cansada, e precisa vestir algo mais confortável.

- Eu posso...

- Não você não pode Duran. Consiga nossa mesa. Você elfo, já que é amigo de Duran, também deve ser safado, então ajude-o!

- Safado?! Eu?! É isso que eu ganho por ser seu amigo Trevor...
Os dois homens saíram para preparar uma mesa para os cinco. As mulheres subiram aos quartos para se prepararem. Todos os cinco ansiosos pelas novidades que serão postas à mesa.

Arte e Sacrifício

Faust teve dois golpes aparados pela espada do oponente. Além de grande, ele era rápido pensou. Aparava os golpes de força descomunal de Faust como se fossem desferidos por uma criança. E ainda atacava com força e velocidades inadequadas ao seu tamanho.

Faliel entoava orações à Pentar a fim de proteger seus companheiros. Era difícil fazê-lo entre uma série de esquivas das lanças inimigas. Sua concentração só não foi quebrada por conta de sua fé descomunal em sua deusa.

E Zado buscava incansavelmente o xamã. Ele deveria ser o que portava as vestes mais simples e leves, armado com uma arma comum como um cajado ou tacape. Após uma sondada rápida, o feiticeiro foi capaz de encontrar seu alvo. Ostentando um colar com crânios humanóides, vestindo peles grossas porém cruas, e balançando freneticamente um grande cajado d madeira nodosa e clara.

- Chamas que ardem nas profundezas da terra, eu as invoco! Concedam-me tua fúria! Que meus inimigos queimem!

Tão subitamente quanto às palavras e gestos começaram, eles terminaram em uma grande coluna de chamas aos pés do xamã que não percebeu até que fosse tarde demais.

- Venham aqui montes de pus! Minha maça precisa de mais pedaços de crânios.

Faliel estava engajado em um combate contra duas das criaturas enquanto gritava sua bravata. As criaturas ficaram furiosas com tamanha audácia. Exatamente como o sacerdote esperava. Com dois golpes rápidos e poderosos uma das criaturas teve o crânio esmagado pelo par de maças pesadas, dando ao sacerdote o tempo de sacar um machado largo e pesado de suas costas.

Faust estava com pouco espaço. A imensa criatura tinha muita força para que o terreno pudesse ser aproveitado. E agora, outras duas criaturas se aproximavam de maneira rápida e violenta. Por mais que sua armadura o protegesse foi inevitável receber alguns golpes. Só havia uma saída para abater o líber. E ele precisaria do apóio de Faliel depois da manobra.

- Faliel! Aço em Queda!

- Entendido garoto!

O jovem guerreiro preparou seu golpe. Ele precisava de tempo.